Entrevista exclusiva Memorabilia: Mark Farner, membro fundador do Grand Funk Railroad
Divulgação MF |
O Grand Funk foi uma das primeiras bandas americanas que
fizeram minha cabeça quando comecei a ouvir rock and roll, lá pela primeira
metade dos anos 1980. Lembro que um pouco antes de descobri-la, eu e minha
turminha já vivíamos um desenfreado “delay” musical dos anos 1970. Ou seja:
nosso barato eram bandas como Led, Purple, Beatles e Stones, entre outras,
grande parte delas inglesas, diga-se de passagem. O som da década de 1980 era a
música que tocava no rádio. Portanto, não nos interessava. Foi então que, em
uma bela tarde calorenta qualquer, um novo “brother de som” me apresentou um LP
do Grand Funk Railroad.
O álbum em questão era o segundo (ainda como trio), o
famoso disco da capa monocromática em vermelho e branco. Foi uma “chapoletada”
e tanto que acabou confirmando minha convicção naquele tipo de som. Dali em
diante, o grupo de Mark Farner (vocal e guitarra), Mel Schacher (baixo) e Don
Brewer (bateria e vocal) - logo depois Craig Frost (teclados), passou a ser
presença efetiva no toca-discos lá de casa.
Dia 11 de março, no Opinião em Porto Alegre (Rua José do Patrocínio, 834), será a oportunidade de conferir mister
Farner em carne e osso, no Opinião.
O veterano mostrará que continua com bala
na agulha para reviver bons momentos do passado glorioso como líder de uma das bandas mais importantes do rock setentista. A
história confirma o GFR como um dos grupos mais populares dos EUA (no período
entre 1971-1974), quando oportunamente eles preencheram uma lacuna entre o
exílio dos Stones e o fim dos Beatles, batendo de frente com o Led Zeppelin,
ignorando a crítica e vendendo milhões de discos. Primeiramente, travestido de
hippies contestadores do mainstream e paladinos da política antibelicista
ianque, e depois como figuras carimbadas do pop, usando as cores da bandeira
americana como uniforme nas turnês e fotos promocionais.
Apesar de todas as contradições e oscilações, sem dúvida o
Grand Funk merece seu lugar no TOP 10 do rock pesado dos anos 70. Em entrevista
exclusiva, Farner declara seu amor incondicional ao rock
americano, relembra os dias de glória, também confirma a rivalidade com o Led
Zeppelin, fala de sua conversão ao cristianismo, e do alto de seus 63 anos,
entoa frases de paz e amor como se ainda estivesse vivendo nos Estados Unidos
no auge do Flower Power.
Memorabilia - Como foi fazer parte de uma banda que definiu o
espírito do som pesado do início dos anos de 1970?
Mark Farner - Eu acabara de fazer 20 anos quando nós
começamos, em 1969. Na verdade, eu não tinha a mínima ideia de onde poderíamos
chegar. Agora que estou um pouquinho mais velho posso dizer que me sinto muito
feliz em saber que tantas pessoas amam a minha música. Rock n’ roll ao estilo
americano!
Memorabilia - Quais os motivos que foram fundamentais para o
Grand Funk ter se tornado uma das grandes bandas do seu tempo?
Mark Farner - Eu acho que Deus queria que eu escrevesse
canções sobre a minha vida. São impressões daquilo que vi e senti quando deixei
minha cidade natal em Michigan e voei de avião pela primeira vez. Tudo era
surpreendente para um cara ingênuo como eu. Tinha que contar para o resto do
mundo o que estava vendo e, conseqüentemente, deixar minha mensagem de paz e
amor através daquelas canções.
Memorabilia - E como é viver com o legado de uma discografia
desse calibre? Digo isso em virtude de que é inevitável ouvir comparações entre
o seu trabalho como um dos membros do Grand Funk e a carreira solo de Mark
Farner.
Mark Farner - É a história da minha vida que está escrita
ao longo dessa discografia! Eu não mudaria nada. Sou um homem orgulhoso das
canções que fiz. Afinal, compus todos os temas dos primeiros seis álbuns e me
sinto muito valorizado em saber que consegui atingir tantos corações ao redor
do mundo. Sempre orei ao criador para que ele me inspirasse e pudesse tocar
positivamente as pessoas que curtem rock and roll.
Memorabilia - E aquela lendária história de que certa vez, enquanto
o Grand Funk abria um show do tour americana do Led Zeppelin, Peter Grant,
empresário do Led, mandou desligar os equipamentos do palco porque a banda de
abertura estava roubando e espetáculo?
Memorabilia - Sim, é a pura verdade! Nós estávamos muito
orgulhosos porque éramos uma banda americana abrindo para uma banda britânica
muito conhecida. O GFR finalmente retornava a Michigan (depois de dois anos sem
tocar lá) e a galera do nosso estado natal fazia questão de mostrar que estava
sentindo nossa falta. Peter Grant não gostou disso e mandou puxar o fio da
tomada. Depois que nos sacanearam, o Led esperou uma 1h30min para subir ao
palco e cantarem ‘Rock ‘n’ Roll’ em inglês americano! Afinal, imitar alguém é a
maior forma de elogio, não acha? Até hoje, todas as bandas de fora dos Estados
Unidos têm que cantar em inglês americano, ou então não seria rock n’ roll.
Bandas americanas têm uma vantagem porque não precisamos fingir o sotaque.
Memorabilia - Falando em Led Zeppelin, o Grand Funk foi uma das
poucas bandas que conseguiu rivalizar com os ingleses (em popularidade) durante
a primeira metade dos anos 70. Como era essa disputa? Ou ela, de fato, nunca
existiu?
Mark Farner - Eles gostariam, é claro, de pensar que são
melhores no que fazem do que nós. Mas a verdade é que todos eles cantam em
inglês americano e não o inglês da rainha.
Memorabilia - 1973 e 1974 foram dois anos especiais para o GFR.
Em 1973, a banda chegou ao topo das paradas como ‘We're An American Band’
(cantada pelo baterista Don Brewer) e, em 1974, ‘The Locomotion’ - canção de
Carole King e Gerry Goffin - era presença garantida nas rádios do planeta.
Essas foram as únicas duas canções de vocês a atingirem o n°1 das paradas.
Inclusive aqui no Brasil, muitos fãs da banda abriram os olhos (e ouvidos) com
esse último som. O que você recorda quando rememora essas duas canções?
Mark Farner - Quando nós fizemos ‘We’re An American Band’,
estávamos compondo aquilo que Lynn Goldsmith (nosso RP) nos sugeriu na época.
Foi Don quem escreveu a letra. ‘Locomotion’ foi gravada por Little Eva, ainda
no início dos anos sessenta. Coincidentemente, eu cantava esse som de
brincadeira quando Lynn entrou no estúdio de gravação. Todd Rundgren, que nos
produzia naquele álbum, também me ouviu cantando e perguntou “que música é essa?”.
Então, começamos a pensar em regravar a composição de Carole King. Nós nos
divertíamos muito trabalhando com Todd!
Memorabilia - E esse lance da banda de ter sido aclamada pelo
público e ter a crítica torcendo o nariz, ou até mesmo ignorando o som de
vocês, chegou a atrapalhar?
Mark Farner - Não, isso nunca nos perturbou. Ao lermos os
comentários ficávamos imaginando que raios de banda eles queriam ouvir.
Memorabilia - Logo após o fim do Grand Funk você iniciou carreira
solo, teve problemas com álcool e em meados dos anos 80 se converteu ao
cristianismo. Como foi o período após o fim da banda?
Mark Farner - Eu estava procurando pelo significado da
vida. Comecei ir à igreja para encontrar Deus, mas eu estava errado. Acho que
eu tinha que passar por essa experiência para logo depois descobrir que o reino
dos céus está dentro de todos nós. Eu gravei alguns discos seguindo conselhos
de alguns religiosos. No entanto, descobri que só os meus fãs e o Espírito
Santo conhecem de verdade meu coração.
Memorabilia - E qual a visão de Mark Farner sobre a música do
nosso tempo? Ainda há espaço para o rock and roll?
Mark Farner - Enquanto as pessoas gostarem de dançar,
viverem bons momentos, e continuarem a prestigiar as bandas que curtem, nós
teremos rock n’ roll. O gênero nunca morrerá!
Memorabilia - Que bandas atuais fazem a tua cabeça?
Mark Farner - Eu não ouço radio porque eu sou um
compositor que está sempre voltado para o íntimo, para a próxima etapa de minha
vida. Atualmente, não tenho tempo para escutar rádio porque minha esposa e eu
estamos ocupados com a recuperação de nosso filho. (Em julho de 2009, Jesse
ficou tetraplégico em um acidente quando estava acampando com alguns amigos).
Memorabilia - Artisticamente falando, quem ou o quê ainda te
inspira?
Mark Farner - Minha esposa Lesia e eu escutamos velhas
canções de R&B em seu Ipod e costumamos dançar. Sempre há mensagens bacanas
nas letras, e nós amamos dançar. Blog - Como será seu set aqui no Brasil? Mark
Farner - Vou tocar na maioria músicas do GFR, com algumas novas canções.
Memorabilia - Você já ficou sabendo que o GFR tem muitos fãs por
aqui?
Mark Farner - Sim, alguns fãs brasileiros foram a um de
nossos shows em Connecticut e nos disseram que a banda tinha muitos fãs no
país. E estou muito animado em tocar para vocês.
Memorabilia - Quais são seus planos para o futuro? Ou você acha
que o futuro é reviver o passado?
Mark Farner - Vou continuar tocando música e escrevendo
canções com as quais eu me conecto. Eu tenho feito muitas aparições com meus
antigos parceiros e também ao lado de outras bandas que fizeram sucesso nos
anos 70. O futuro será bom para todas as pessoas que fazem um esforço positivo
para acabar com a guerra e têm uma consciência coletiva em prol da paz na
terra. Os bons vencerão no final!
Memorabilia - O que os fãs de Mark Farner e Grand Funk irão
encontrar nas suas apresentações aqui no país?
Mark Farner - Muito amor e uma
banda de rock n’ roll séria. Keep Rockin’!
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