“PARIS”, DO SUPERTRAMP, O DISCO QUE RODA NO MEU TOCA-DISCOS NO DIA MUNDIAL DO ROCK


"Paris" em vinil. Arquivo pessoal
Daria pra falar de dezenas de álbuns, mas escolhi destacar nesse Dia Mundial do Rock um daqueles discos que vira e mexe sempre volta a girar no meu toca-discos. “Paris” foi gravado na turnê de “Breakfast in America” (1979), LP de maior sucesso do Supertramp na década de 1970, e mesmo tour pelo qual o grupo correu o mundo por dez meses. 

Gravado na terceira das quatro noites que lotaram o Pavillon, em Novembro de 1979, o resultado dessa captura foi empacotado num LP duplo e colocado nas prateleiras no ano seguinte. O cultuado álbum ao vivo é considerado um dos maiores registros feitos na estrada por uma banda de rock em todos os tempos. 


Na época, a banda inglesa tinha na sua linha de frente dois cantores/compositores de mão cheia. Fora do palco, o relacionamento de Rick Davies (voz e teclados) e Roger Hodgson (voz, guitarra e teclados) não era bom. Longe se serem amigos íntimos ou parceiros, mesmo assim dividiam as composições e os vocais. Entre discordâncias, seja de ordem artística ou até mesmo fora do trabalho, clássicos não deixaram de florescer. E foram muitos. Vendo o DVD de “Paris” (lançado tardiamente em 2006, e disponível no Brasil), dá pra sacar que a dupla realmente não se topava: reparem como não há uma mínima troca de olhares ou qualquer interação fora do protocolo. Apesar disso, tudo flui na apresentação.

"Paris" em DVD. Arquivo pessoal
Completam a banda, Dougie Thomson (baixo), Bob Siebenberg (bateria) e John Helliwell (saxofone, sopros, e vocais de apoio), esse último também responsável pela interlocução com o público. Davies e Hodgson só abrem a boca para cantar. Rick quase nunca sorri, Roger parece mais a vontade no palco. 

 “Paris” é um dos discos da minha vida, seja pela enxurrada de hits que cooptaram as paradas de sucesso da época, ou até mesmo pelas longas incidências instrumentais flertando com diversos gêneros. Por exemplo, temas como “School”, “The Logical Song”, “Breakfast in America”, “Dreamer” e “Take the Long Way Home”, tocaram exaustivamente nas rádios dos dois lados do Atlântico.  Contudo, na cabeça de um jovem como eu, na época com 15 ou 16 anos, a virada de chave e consequente introdução em um novo universo musical, começaria ali. A jogada de muitas vezes deixar a guitarra no segundo plano, e colocar o piano elétrico Wurlitzer na linha de frente das canções, esse mérito pertence ao Supertramp. É o piano que manda na maioria das vezes. Alguns temas, inclusive, não possuem guitarra. 

Thomson, Sienberg, Helliwell, Hodgson e Davies, formação clássica do Supertramp
É curioso como o Supertramp não renovou o seu público, pois é difícil ver a molecada de hoje curtindo os discos do grupo britânico. Na contramão, o pessoal old school do rock continua pagando pau pra esse play! Existe nesse conjunto de canções um cruzamento deliberado de gêneros musicais, mas há principalmente uma facilidade em aproximar o rock progressivo do POP, isso sem deixar de apresentar um refinamento artístico raro. Inimitável eu diria. E tudo tocado magistralmente ao vivo, Apesar dessa impressão, décadas depois Hodgson tentou impedir Davies de lançar o DVD, pois no julgamento dele sua performance foi deficitária. Puro preciosismo. Essa pendenga na verdade só serviu para impedir qualquer movimento de retorno a formação clássica desfeita em 1982, com a saída de Hodgson do time. 

Lembro-me de ouvir "Paris" de luzes apagadas no meu quarto. E lá se vão 30 anos. Mesmo assim, dentro do abrangente escopo do rock mundial, esse disco continua no alto do pódio das minhas preferências. E de lá ele não sai. Quando nos primeiros segundos do disco soa a gaita de boca de Rick Davies e logo depois Roger Hodgson diz os primeiros versos de "School", a mágica se materializa. 

Clássico.   

Tracklist:

Lado 1:

1 - "School" – 5:41
Vocal líder: Roger Hodgson e Rick Davies
2 - "Ain't Nobody But Me" – 5:24
Vocal líder: Rick Davies
3 - "The Logical Song" – 3:56
Vocal líder: Roger Hodgson
4 - "Bloody Well Right" – 7:23
Vocal líder: Rick Davies

Lado 2:

1 - "Breakfast in America" – 2:57
Vocal líder: Roger Hodgson
2- "You Started Laughing" – 4:02
Vocal líder: Rick Davies
3 - "Hide In Your Shell" – 6:54
Vocal líder: Roger Hodgson
4 - "From Now On" – 7:05
Vocal líder: Rick Davies e Roger Hodgson

Lado 3:

1 - "Dreamer" – 3:44
Vocal líder: Roger Hodgson e Rick Davies
2 - "Rudy" – 7:08
Vocal líder: Rick Davies e Roger Hodgson
3 - "A Soapbox Opera" – 4:51
Vocal líder: Roger Hodgson
4 - "Asylum" – 6:51
Vocal líder: Rick Davies e Roger Hodgson

Lado 4:

1 - "Take the Long Way Home" – 4:57
Vocal líder: Roger Hodgson
2 - "Fool's Overture" – 10:57
Vocal líder: Roger Hodgson
3 - "Two of Us" – 1:25
Vocal líder: Roger Hodgson
4 - "Crime Of The Century" – 6:31
Vocal líder: Rick Davies

Veja o show completo em dois players abaixo (veja o tracklist completo do material AQUI).



Comentários

  1. Grande Márcio!
    Estupendo disco do Supertramp, excelente lembrança e belo texto, como sempre.
    Sugiro ao amigo o álbum "Myopia" de 1973 do ex-Creedence Tom Fogerty, guitarrista, único do grupo já falecido. É ótimo.

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  2. PARIS foi minha bíblia musical durante muito tempo. Como vc bem descreveu, as nuances musicais nele vão muito além da qualidade de hits, de algumas de suas músicas. Desisti de tirar as músicas ao violão logo na primeira audição. Não dá. São muitos instrumentos, muto teclado e, de novo, como vc disse, pouca guitarra. O fato de eu não ter um Wurlitzer também não ajudava. Porque não basta ter um piano ou teclado - tem de ser o Wurlitzer. Fool´s Overture fazia parte daquelas músicas que fazia eu ver as bandas como inalcançáveis, habitando o topo de algum Olimpo musical - Stairway e Led Zeppelin, Time e Pink Floyd, Sultans e Dire Straits e Bohemian e Queen estavam na lista também. E, finalmente: qual o estilo do Supertramp? Perfeição define.

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